Acendendo um cigarro, recordo-me de uma história...
Caso de estudo para ser mais concreto.
Artur (nome fictício), já nos seus cinquentas, mantinha-se solteiro e derrotado, a viver com os pais.
Pais entrados na idade, casados cedo, tinham no seu comportamento uma vivencia em discussão e desarmonia.
Artur saturado dos desempregos e nos desenamores, tinha diariamente a visão sentida da discussão de seus pais, que terminava sempre com a ameaça de uma arma de fogo, que seu pai usava de forma tempestiva contra a sua mãe, com o intuito de persuadir a esposa a anular-se da discussão; arma essa que estaria sempre descarregada, apenas servia de objecto teatral no trato de dois humanos diminuídos e retratados com uma parca evolução pelo amor.
Artur e seus pai viviam num apartamento no 7º andar de um prédio com 18 andares.
Artur que alimentava a vontade de suicídio, penava com o cenário, alimentando um amor odioso para colocar o termito da discussões diárias de seus pais.
Tomou a decisão de carregar a arma, com a vontade intrínseca de a arma se disparar acidentalmente, provocando o silencio eterno de uma das partes.
Num fim de tarde semanal, Artur chega a casa no 7º inferno, rodando a chave, e com porta entreaberta afigura seu pai em discussão com sua mãe, com o pai ameaçando a mãe de morte com o revolver em punho... Artur, fecha a porta e segue desenfreado para o topo do edifício, ultrapassando o 18º andar, seguindo para o topo, e sem hesitar manda-se em queda livre em voo suicida.
Estatelando-se no chão, provoca os horrores nos transeuntes, sendo a emergência médica actuada de imediato, sem perspectivas de possível pulsar vital, tal foi a violência do embate.
As autoridades competentes, chegados ao local, isolam a área funesta, e numa análise cuidada, ficam chocados com algo incompreensível.
Artur tinha uma bala alojada no coração.
Ficou claro que o óbito foi provocado por uma arma de fogo; supostamente Artur teria sido baleado no topo do edifício e teria caído em queda livre já óbito.
Sendo o prédio isolado, e motivo de averiguações, com relativa rapidez chegam a um sétimo andar, onde se dão conta de um homem e uma mulher prostrados de joelhos em silencio mórbido envoltos de uma tristeza macabra.
Seguiu o assunto para uma incerteza se as autoridades estariam perante um caso de suicídio ou homicídio.
Com interrogatório imediato aos pais de Artur, as autoridades desmontam o caso para um azar ao pormenor de sabotagem e de relógio parado no tempo.
A morte, acertou em Artur duas vezes no dia.
Artur em pleno voo suicida, ao passar pelo 7º andar, a arma do pai que sempre esteve descarregada, teria uma bala colocada; e os desejos do filho entraram em plenitude aquando a arma disparou acidentalmente, falhando a mãe, e a bala furtiva saiu pela janela acertando no coração de Artur quando o mesmo vinha em pleno voo suicida.
A tristeza e a desgraça encontra sempre soluções.
Até mesmo um relógio parado acerta na hora duas vezes ao dia...