Ela...
Era de bronze.. e tinha sido colocada a 20 metros de altura.
Mulher do passado, algures do século XVII; escreveu por linhas direitas, poemas tortos da sua vivência.
Imortalizada em figura metálica, a pedra sustentava-a num ornamento manuelino, o gótico Português tardio , querubins saudando a espiritualidade, corais sublinhando o maritimo, pinhas lembrando a imortalidade, e a esfera armilar, sublinhando a esperança no mundo; faziam da pedra uma prece longa e poderosa de activar poemas passados, escritos por mão esquerda, na sombra de cabelos ruivos, olhados e rasurados por olhos verdes... muitos deles, acompanhados pela humidade salgada das emoções.
O seu bronze de hoje, mantinha a silhueta das suas vestes monárquicas, e apesar da oxidação que o tempo abraçou, era airosa e detonante.
Na avenida por onde observo; encaixo a figura na frente de uma catedral, onde coloco duas torres sineiras, uma de cada lado de Ela... Dois guardas... Duas vozes... O bronze dos sinos...
Sinto-me enquadrado num eixo nascente, poente... A geometria do cenário fala comigo e explica-me historia de paixões... Ela observa sempre o poente... o deitar... a morte... com costas voltadas ao nascer... a iluminância...
De uma infancia rude e agreste, aprendeu a conhecer o Amor pelo próximo, poderia ser uma aprendizagem a solo, mas teve sempre a envolvência da dualidade; entre o branco e o negro de almas e desalmas.
Da sua infância, fica o registo altivo do grande Amor sentido e retribuido por... Ele... amigo de nascença, caminhante eterno das poucas brincadeiras entre campos, fontanários, ribeiros, e tudo o que permitisse soltar risos de alegria, e emoções de pura amizade cristalina.
Proibitivo de se unirem...
Casou cedo, forçada pelo acordo de duas familias, que teimavam em juntar corpos, sem que sentimentos fossem autorizados a declamar, em honra de amores verdadeiros.
Era homem rude, mecanizado com a estrutura suina de procriar, e tratar de negócios ultramarinos
A natureza não a abençoou com o poder materno, sendo colocada de parte em todos os assuntos, excepto no prazer monocarnal.
Afastada do verdadeiro Amor, nunca o largou, ligando-o em poesia... diariamente.
Aos 30 partiu... e deixou obra literária que a imortalizou no plano sentimental...
Bronze... liga fantástica unindo o cobre e o estanho... o metal escolhido para dar corpo a Ela, relembrando Ele.
Ela e Ele, um só... unidos pelo poema...
Polsku & Emma