Sentei-me numa rocha...
era de um macio saudavel...
o cheiro do mar, tocava-me no ombro.
não estivesse eu cansado, saturado..
de gotas vertidas
tudo macio...
qualquer limão fazia inveja as papoilas...
por estar sentado, quieto, na rocha....
sozinho...
despejei-me..
de tudo
deste meu pesado leve
um bem grande nada
recuperando não sei bem do que...
(...silencio...)
e lembrei-me de uma historia...
que ia inventando...
segundo a segundo...
era uma vez...
um rapazinho...
bem tenro na idade...
que decidiu escrever...
toda a vida que iria ter... ate... morrer
e assim pegou no lápis...
começou por articular uma infancia sorridente, embriagado pelos brinquedos,
pelos colos da familia,
pelo brilho dos passaros... em tudo o que possa ser imaginavel em rosa de fundo,
numa criança até aos 6 anos acontecer...
o grafite escorregava nas folhas brancas, dando corpo minuto a minuto...
passando pela instrução primária, onde mundos novos despertam...
sentindo pequenas novas paixoes...
todos os dias foram escritos
todas as horas
todos os minutos
nem as quedas de bicicleta escapavam de uma descrição milimétrica...
ao fim de um abraço de folhas...
e decidiu...
decidir...
uns vintes decisivos...
em que tudo acontece...
dando corpo a uma uniao...
dando vida a vida
selando conhecimentos academicos...
tudo como nas regras do bem escrever...
todas as virgulas, todos os não pontos finais...
segunda paragem do grafite, demorada, articulada para o lado esquerdo do avesso...
e decide-se dar nova universidade... não no corpo, mas na alma...
colocar um vazio nos trintas...como se de uma escola tratasse...
perder o que pensara não ter ganho... porque apenas.. fazia parte
desde as insónias, aos almoços sem sabor, passando pelos jantares que nem a memoria pegou..
uns trintas bem pesados de vazios...
salto nos quarenta...
onde tudo se aguenta...
do segundo curso se aplica...
numa especie de vida nova que os cinquenta espreitam..
as folhas que se escreviam...
iam dando lugar a montes de geometria A4 em espessura consideravel...
e uma caixa de lapis quase vazia...
novos amores nos cinquentas..gatinhavam, sorriam, e faziam valer a pena respirar...
descrevia-se tudo o que se podia ensinar...
a quem de tenra idade ia crescendo..
a profissão em pano de fundo atravessava practicamente todos os capitulos desde os 18 anos...
e continuava em rectas curvilineas, sempre em gráfico crescente..
sétimo lapis...
e os sessenta eram sorrisos virgula sim virgula não...
idas ao médico..
controlo de uma saude quimica..
direitos de sossego em ferias estrategicamente colocadas...
preparativos para que fosse sucedido profissionalmente...
quatro folhas ficam em vazio...
e aparece uma escrita...
de um dia...
em Maio...
aos 78 anos...
o grafite coloca um ponto final...
na madrugada..
o rapazinho...
terminando tal romance endurecido...
deu sorriso ao trabalho feito..
e considerou...
"Será assim que me cresco, com virtudes e desvirtudes, de uma vida caminhada...do que me ensino, do que me bebo... serei maior desde que me nasci..."
acordei...
de um não sonho...
desta rocha macia...
não sei do que me dei...
de um virtual medonho..
do que esta historia trazia...
sendo ou não sendo...
levantei-me...
voltei caminho...
ao meu talvez escrito...