domingo, 10 de novembro de 2024

Tinta flutuante

Peguei numa esferográfica.
Era mágica.
Escrevia em todas as cores.
Retorcia e desdobrava temas de forma sedosa.
Teimava em escrever uma mágoa, e apenas saia doce.
O doce que faz falta, mas a esferográfica mágica tem. 
Em 3 horas de manuscrito, correndo tinta em A4, purgando-me 
dos azedos mentais, revejo-me cansado de pulso... e das cores que saíram da esferográfica, apenas 
uma palavra ficou manuscrita.
"Silêncio"
Escrita em 8 cores... uma por letra.
Dei por mim, vazio de baralhado.
Não pensava... estava travado.
Não sei se as folhas ficavam magoadas do meu conteúdo, e se a esferográfica entrou em modo de protecção ás mesmas.
Provavelmente as preces azedas não têm espaço no lírico.
Mas a palavra "Silêncio" ficou bonita.
Ficou.
O silêncio é bonito.
O silêncio tem perfume... cheira a silêncio.
E flutua...
Realmente... As folhas de papel... Vieram de uma árvore que foi abatida; e em processos de calque e recalque, lá se fizeram folhas... violento... e tudo em silêncio.
Nem a árvore se queixou, nem as folhas de papel pediram para vir ao mundo.
Agora compreendo a esferográfica. 
Vou sonhar...
Com uma esferográfica que me escreva... em silêncio, com tinta flutuante.