De palma estendida cai-me uma gota...
Uma simples gota...
Água de algures com geometria pré-formada por esta gravidade que nos abraça.
Parou o meu caminhar em pensamentos...
Senti-me em uníssono com algo de força maior..
Tudo o que me envolvia apagou.
O céu escuro, o som do mar, a vegetação envolvente, o chão duro contornado por linhas despenteadas, o vento frio suave de aroma a iodo com vestes de maresia..
Um plano formado por equações complexas apresenta-se.
Apenas a minha mente processa o que vê...
Os olhos passam a ser acessório, um bem material não necessário.
A gota eleva-se, a um ponto não definido, fazendo convite a uma partilha.
Contra o que é conhecido das leis da física, apenas mentalizo as imagens que a Gota me oferece.
E de um espelhado luzidio, abre-se um pequeno portal, como se todo o meu eu entrasse de forma comprimida para outro mundo.
Entro...
Outro mundo...
Observando, sem capacidade de raciocinio, lavro todos os metros quadrados em meu redor, e do que vejo, nada se parece com nada... Apenas se sente... Ar leve que não se consome, luz ambiente que ofusca o negro, sons valsantes a subtituir o ritmo cardiaco que não sinto... E sim... é uma paisagem sem fim.
Seguindo sem destino... Apenas comandado pela curiosidade, observo pequenos lagos que se me aproximam...
Um atrás do outro, refletem-me pequenas imagens do mundo de onde venho.
Imagens essas, de pobreza, almas desprovidas de emoções, orfãos mal tratados, e um sem número de angûstias.
Pareciam espelhos da vida real, onde apenas se retratava a tristeza....
Espelhos onde me revi em diversas situações.
Seguindo caminho sem rumo, sou orientado por sons familiares... Vozes..
Era uma clareira de chão macio, forrado a verde veludo... Rochas aqui e acolá de um branco polido, rendilhadas com flores de cores diversas... imaculadas.
Era simples, mas de um conforto sentido... Respirável.
As vozes eram propriedade, das pessoas envolvidas nos lagos que espelhavam o meu mundo; mas era estranho, porque agora estavam bem, estavam leves e sorridentes...
Como se de uma reunião casual se tratasse...
Fiquei sem perceber o quadro apresentado... Seria de um pintor qualquer, que consegui-se pintar duas dimensões em simultanêo.. ou em paralelo...
Mas percebo... cada um tece o caminho que pretende; bastando ter a coragem de navegar em outros mares, utilizando conhecimentos adquiridos; e vendo em cada negrume uma luz que orienta.
Sinto um frio gélido nas costas... Gélido mas seguro...
Volto-me mecânicamente de palma estendida...
Cai-me uma gota...
E penso...
Outro mundo?
A resposta assalta-me em sentimento, com uma profundidade cristalina... Dizendo-me..
"Outro mundo... e quantos queiras... quantas gotas a chuva te dá, quantos mundos poderás ter...
tudo se tranforma quanto queres... dando... recebes".
Desperto em mim...
O som do mar...
O cheiro da maresia..
O verde da vegetação...
Tudo ligado, preenchendo-me de uma forma nunca antes sentida...
E neste mundo pesado... senti-me leve... senti-me a pertencer a um todo; que apenas faz sentido.. como um todo.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
Caminho de folhas secas
Serei eu sem ser o que não sou
Engano-me descontinuadamente
Em frente… para onde vou…
Em incerteza ardente
Estaladiço destas folhas secas
Que aos meus pés faz sentir
Manto castanho contornos violetas
Alma quente polida sem cair
Não há agua que beba nem pão que tome
E da não fome que me desalimenta
Nem me lembro o que ela come
Caminho de folhas secas que me comenta
E no ser
Ter…
Caminho de folhas secas
Entre árvores esculpidas pela terra e a chuva, a ansia que me dás!
De desbravar com unhas partidas até que o sangue se liberte das pontas dos dedos!
E de dentes cerrados, dilatar as veias do pescoço com tal arremesso raivoso,
Corpo alma e sangue em todas as vírgulas, em todas as curvas, em todos os buracos.
Estorva-me esta vontade de pisar as folhas secas
Estorva-me… pensar que o caminho tem fim…
Estorva-me… pensar que não tem fim…
Estorvo-me…
Despindo-me a pele, tirando a carne, arrumando os ossos… sobra-me um ponto de luz…
Que voa… e cresce…
E volta a pisar.. o caminho… das folhas secas…
Engano-me descontinuadamente
Em frente… para onde vou…
Em incerteza ardente
Estaladiço destas folhas secas
Que aos meus pés faz sentir
Manto castanho contornos violetas
Alma quente polida sem cair
Não há agua que beba nem pão que tome
E da não fome que me desalimenta
Nem me lembro o que ela come
Caminho de folhas secas que me comenta
E no ser
Ter…
Caminho de folhas secas
Entre árvores esculpidas pela terra e a chuva, a ansia que me dás!
De desbravar com unhas partidas até que o sangue se liberte das pontas dos dedos!
E de dentes cerrados, dilatar as veias do pescoço com tal arremesso raivoso,
Corpo alma e sangue em todas as vírgulas, em todas as curvas, em todos os buracos.
Estorva-me esta vontade de pisar as folhas secas
Estorva-me… pensar que o caminho tem fim…
Estorva-me… pensar que não tem fim…
Estorvo-me…
Despindo-me a pele, tirando a carne, arrumando os ossos… sobra-me um ponto de luz…
Que voa… e cresce…
E volta a pisar.. o caminho… das folhas secas…
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